O Dom da Vida IV - A vida constitui-se como o mais sublime dos dons concedidos pela divindade. Não é um mero acontecimento biológico ou um fenômeno contingente; é a expressão concreta de um princípio transcendente, um reflexo da inteligência criadora que estrutura o universo. O existir humano, portanto, transcende os limites do tempo e do espaço, manifestando-se como uma projeção contínua do amor e da consciência divina. O dom da vida não se distribui de modo aleatório. Cada ser é portador de uma identidade ontológica singular — uma centelha da essência divina que o diferencia e o integra ao mesmo tempo no grande tecido do Ser. Assim, viver é participar do mistério criador, expressando, por meio da própria existência, a natureza eterna daquele que a concedeu. A compreensão dessa singularidade conduz a uma consciência mais profunda da própria individualidade e da interconexão com o todo. A vida humana, sob essa ótica, pode ser compreendida como um espetáculo único: uma narrativa irre...
O Silêncio dos Homens Nós, homens, crescemos no avesso das palavras. Aprendemos cedo que carinho era luxo, que "eu te amo" não cabia na boca do meu pai. Presentes eram raros, e quando vinham, eram quase sempre silêncio embrulhado em papel grosso. Na infância, não éramos crianças, éramos candidatos a guerreiros, empurrados à vida como quem lança pedras num rio, esperando que flutuassem. E aqui estamos: adultos de ombros pesados, sem direito ao choro — choramos escondidos, de fora para dentro, não somos amados, somos necessários. O elogio, dizem, é prêmio póstumo. Guardam as palavras bonitas para o velório, quando já não escutamos nada. Enquanto vivos, esperam de nós apenas força, mesmo quando tudo dentro grita por colo. Mas, no fundo, seguimos. Machucados, mas inteiros; solitários, mas firmes. Seguimos porque aprendemos a amar sem ter ouvido amor, a dar sem ter recebido, a viver mesmo quando ninguém nos ensinou a sentir. Nós, homens, somos poesia guardada em pedra, cho...