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O Silêncio dos Homens


 

O Silêncio dos Homens

Nós, homens, crescemos no avesso das palavras.
Aprendemos cedo que carinho era luxo,
que "eu te amo" não cabia na boca do meu pai.
Presentes eram raros,
e quando vinham, eram quase sempre silêncio embrulhado em papel grosso.

Na infância, não éramos crianças,
éramos candidatos a guerreiros,
empurrados à vida como quem lança pedras num rio,
esperando que flutuassem.

E aqui estamos:
adultos de ombros pesados,
sem direito ao choro —
choramos escondidos,
de fora para dentro,
não somos amados, somos necessários.

O elogio, dizem, é prêmio póstumo.
Guardam as palavras bonitas para o velório,
quando já não escutamos nada.
Enquanto vivos,
esperam de nós apenas força,
mesmo quando tudo dentro grita por colo.

Mas, no fundo, seguimos.
Machucados, mas inteiros;
solitários, mas firmes.
Seguimos porque aprendemos a amar sem ter ouvido amor,
a dar sem ter recebido,
a viver mesmo quando ninguém nos ensinou a sentir.

Nós, homens,
somos poesia guardada em pedra,
choro escondido no riso,
flores que ninguém regou
e ainda assim insistiram em nascer.

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