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O Brilho das Luzes Invisíveis


 

                                  O Brilho das Luzes Invisíveis

Era véspera de Natal, e eu estava sentado na sala, cercado pelo calor discreto da casa. Não havia árvore enfeitada naquele ano, mas sobre a mesa repousava uma chaleira de ferro, exalando o aroma suave de chá de capim-cidreira. Lá fora, a noite estava fria, mas dentro de mim havia uma chama acesa.

Enquanto segurava a xícara quente entre as mãos, pensei nos Natais da minha infância. Lembrei-me das manhãs ansiosas, da expectativa pelos presentes e da recepção acolhedora da minha mãe enquanto preparava a ceia com o que nós. Mas, acima de tudo, registrei a simplicidade com que ela fez o Natal acontecer, mesmo nos anos mais difíceis. Era ela quem me ensinava que o brilho do Natal não vinha das decorações ou dos presentes, mas das pessoas e dos pequenos gestos de amor.

“O Natal está nas coisas invisíveis”, ela costumava dizer. Naquele tempo, suas palavras eram um mistério para mim. Porém, hoje, sentados ali em silêncio, elas fizeram todo sentido. Na correria da vida adulta, percebi que o Natal verdadeiro não está nas vitrines das lojas nem nas festas grandiosas, mas nos momentos de carinho e solidariedade que ele inspira.

Naquela noite, mesmo sem árvore ou luzes piscando, senti que o espírito do Natal estava ali. Era o mesmo espírito que vi durante o dia ao entregar cestas de alimentos para algumas famílias do bairro e ao compartilhar uma conversa com um amigo que não via há tempos. Era o sorriso de uma criança que brincava com um carrinho velho, mas cheio de significado, que reacendia em mim a verdadeira magia do Natal.

Ao me levantar para apagar a luz da sala, entendi que as maiores luzes são aquelas que carregamos no coração. Elas iluminam os gestos de espera e tornam o mundo menos frio, mesmo quando a noite está gelada.

Olhei para o céu escuro e estrelado pela janela e sussurrei uma prece. Não pedi presentes, nem milagres; apenas agradeci. Porque a essência do Natal não está em recepção, mas em consideração os tesouros que já temos: a família, os amigos, a memória de quem amamos, e a chance de transmitir calor e esperança.

Enquanto o chá esfriava na xícara ao meu lado, uma paz doce tomou conta de mim. A noite tranquila e o som distante de uma música natalina trouxe um sorriso ao meu rosto. Naquele momento, compreendi que a magia do Natal não está nos olhos, mas na alma.


Chagas Barros

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